segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Política ou Políticas: faz alguma diferença ou que diferença faz?

Política ou Políticas: faz alguma diferença ou que diferença faz?

Por: Ieda Marques Rocha
Lindete F. D. Machado

Segundo o Dicionário de Filosofia a palavra POLÍTICA vem do grego POLITIKÓS que significa tudo o que diz respeito à cidade.

Palavra “política” não é uma palavra no singular, mas por si só já é um plural, não o plural que no mundo das classes gramaticais refere-se ao “número dos substantivos”. Segundo a professora de Língua Portuguesa Kátia Sanches que define substantivo como sendo “as palavras da nossa língua que dão nomes aos seres em geral (...) e que quanto ao número, pode assumir as formas: singular e plural. Singular quando se refere ao único ser e plural quando refere-se a mais de um ser”. (2004)
Por que “política” no sentido plural? Porque é um termo usado, entendido, compreendido e interpretado de várias formas. É como diria a professora e pesquisadora da UFBA, a professora Lícia Beltrão: “você só escuta aquilo que quer escutar”, parafraseando: “nós só entendemos o que queremos entender do jeito que gostaríamos que fosse”.

Hoje, a palavra mais proferida, discutida, comentada... é política. É política ou eleição? Qual a diferença entre as duas? Alguém até que poderia dizer: política é segundo a filosofia “o campo da atividade humana que se refere à cidade, ao Estado e às coisas de interesse público”. (COTRIM. 2001. p. 291) E eleição é “o processo de escolha de representantes políticos, por meio do voto”. (GDEE, 1999. p.557)

Mas, ainda é encontrado àqueles que para demonstrarem a sua irritação quanto às propagandas dos candidatos a prefeitos e vereadores afirmam categoricamente: “-detesto política!” O que realmente essas pessoas detestam? O barulho dos carros de som? Os comícios? Os “showmícios”? Sim os Showmícios. Que para quem ainda não está familiarizado com o termo, “é um comício em que há também a apresentação de artistas, cantores e conjuntos musicais”. (XIMENES, 2000. p.858)

No interior usa-se também outros meios para que os candidatos consigam a aprovação dos eleitores, são as carreatas, caminhadas, visitas aos bairros... nas caminhadas, misturam-se várias vozes, diferentes culturas e diferentes graus de escolaridade. Enfim, é uma epidemia polifônica onde até os mais insensíveis dos humanos são contaminados. Poderíamos até chamar um médico para melhor fazer esse diagnóstico, mas para situações especiais iguais a esta preferimos convidar a professora da USP Helena Nagamine, que com certeza afirmará que:
esses discursos outros, intertextualmente colocados como constitutivos do tecido de todo discurso, têm lugar não ao lado mas no interior do discurso mesmo. É nesse sentido que se pode dizer que o texto se transforma em uma arena de lutas em que vozes, situadas em diferentes posições emergem polifonicamente, numa relação de aliança, de oposição ou de polêmica quer explícita quer implicitamente.(2001)

Para um pesquisador da língua escrita, essas diversidades muito iriam contribuir, pois encontrariam desde as figuras de linguagens até os vícios de linguagens mais estranhos que se possa imaginar. A figura de linguagem mais encontrada é a Ironia – “toda sugestão, pela entoação e contexto, do contrário daquelas palavras ou as frases exprimem, por intenção sarcástica”. (SACCONI, 1998. p..384)

Exemplo de ironia usada pelas pessoas em uma dessas “caminhadas”: “tulipa roxa”
*, “macaco em extinção”**, “quatro mirobon atrás”***. Nos vícios de linguagens o mais destacado é o Barbarismo, que segundo Sacconi “é todo desvio do idioma, grafia, na flexão ou na pronúncia de uma palavra”. (1998, p.386) Exemplo dos vícios mais comuns: “xance” para pronunciar chance; “pedurim da roça” é o mesmo que pedurinho da roça que significa “alguém não nascido na zona rural, mas vive como tal” e veja ainda mais esta: “bota doendo”, que significa falar bruto com alguém.
Todas essas estratégias usadas pelos candidatos para conseguirem votos, trazem uma outra reflexão: a “Consciência Política”. A palavra consciência tem significados diversos, “embora todos referem-se à vida anterior”. Para Descartes, a consciência consiste nos próprios processos que as constituem; enquanto Fran Bretano já acha que a definição de Descartes é muito fechada em si mesma, Freud define a consciência como um modo de vida psíquica. Mas muitos já defendem a Consciência Moral como sendo “capacidade de distinguir entre o bem e o mal”. Que consciência política é essa, que acredita que colocando uma multidão em uma “caminhada” faz com que as pessoas acreditem que, quanto mais gente for às ruas mais vantagens tem esse candidato de ser eleito e assim conseguir mais votos? Que consciência política é essa que faz com que muitos acreditem que um funcionário por trabalhar durante muitos anos em um mesmo local já tem uma história, e assim sendo está apto para defender os seus direitos?
* mulher chata
** mulher conversadeira que gosta de aparecer
*** Candidato a prefeito, o vice e os dois vereadores.

Persuasão, coerção... seja qual nome for, nos faz estabelecer uma relação com o “poder ideológico” que segundo o filósofo Gilberto Cotrim “é a utilização da posse de certas idéias, valores, doutrinas para influenciar a conduta alheia, induzindo as pessoas a determinados modos de pensar e agir”. (2000. p.292) não será difícil relacionar esta definição com o “disfarce” usado pelos inescrupulosos para atraírem e influenciarem os menos esclarecidos; pode ser que a palavra usada não sirva como um adjetivo para os influenciados, pois entre esses, muitos até que são “esclarecidos” mas deixam-se ser usados como instrumentos de persuasão ou ainda como “motivadores” para atrair mais pessoas. Ainda como atração, encontra-se várias garotas se menores de idade ou não, não se sabe, entregando santinhos e... de incentivadoras passam a ser incentivadas à prostituição.

Nesse momento a palavra da vez é o “respeito às diferenças” e isso implica em atos de omissão. Não pergunte qual a ligação existente entre prostituição e “respeito às diferenças”, observe somente a definição da palavra prostituição, trabalho e profissão: Prostituição –“prática de relações sexuais mediante remuneração” (LAROUSSE, 2003. p. 808) enquanto que profissão significa “emprego, trabalho, ofício” lembrando ainda que trabalho é “toda atividade profissional regular e remunerada” (XIMENES. 2001).

Após a análise dos três termos depara-se agora com um outro dilema: assim como todos conhecem os “seus direitos” “sabem exercer sua cidadania”, se resolverem usar esses mesmos “direitos” para legalizarem seus atos? Novamente a palavra, pluralizada, “oportunista” , a pedra da vez surge na sua plenitude e força, só que agora na sua forma mais empregada no século XXI: POLÌTICAS. Políticas Públicas.

Segundo o coordenador da organização Brasileira de Juventude, Alonso Nunes Coelho Políticas públicas é o “conjunto de ações coordenadas com o objetivo público”. (2003) já Paulo Penteado diz que Políticas Públicas “é aquilo que o governo faz”.

Nesse instante é interessante voltarmos o nosso olhar, não um único olhar, mas os múltiplos olhares, para o que alerta o coordenador Alonso N. Coelho: “faz-se necessário não confundirmos Políticas Públicas com políticas governamentais”. (2003) Desse modo, é importante frisarmos que o futuro da juventude não pertence somente aos jovens, mas também a um grupo que se aproveitando da despolitização de alguns, investem maciçamente, defendendo uma política de juventude, onde os resultados são demonstrados todos os dias pelos boletins estatísticos; jovens que não terminam o ensino fundamental; jovens responsáveis pelo tráfico; jovens assassinos e assassinados... enfim, é como afirma Rita Lee em uma de suas músicas com composição de Moacyr Franco: “o vinho branco, a cachaça e o chope escuro o herói e o dedo-duro o grafite lá no muro seu cartão e seu seguro quem cobrou ou pagou juro meu passado e o meu futuro tudo vira bosta” (2004)

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