domingo, 12 de outubro de 2008

Envolvimento ou não envolvimento? Eis a reflexão!



A reflexão sobre a vivência do cotidiano educativo gera envolvimento nos educadores e responsáveis pelo fazer pedagógico

O encantamento para com a educação pública municipal de Irecê, foi o que me incentivou e motivou a buscar subsídios que me levassem a uma reflexão sobre o envolvimento do educador para com a educação.

O encantamento, o qual me refiro, é aquele que gera interesse, motiva e incentiva o educador a querer descobrir os motivos que o levaram a se envolver ou a se descobrir como um não envolvido para com a educação pública. Descobrir saberes e não saberes, transformar-se em um pesquisador, torna o profissional em educação num agente da reflexão sobre paradigmas, concepções atreladas ao processo ensino-aprendizagem. Segundo a professora Ângela Paiva, “os artigos de Schön, nos convida a desenvolver a capacidade reflexiva sobre a nossa prática, fundamentando o conceito de professor reflexivo” (2003, p.16)

No desenvolver deste ensaio, evidenciado principalmente a partir do primeiro parágrafo, representado pelo título, “Profissionais desinteressados: a quem envio?” procuro enfocar o grupo que compõe a educação e, a sua “contribuição” para com quem interessa em ser um profissional reflexivo.

“Em diversidade de opiniões: qual dela defendo e qual adéquo às minhas”, foi um outro meio que encontrei para demonstrar a presença da alteridade e os subgrupos que fazem a educação e a sua contribuição para a reflexão sobre a prática.

Sob o título “a escola que o diretor deseja” procuro contrastar a concepção que defendemos com a realidade das escolas públicas do município de Irecê.

“Metamorfose: velha opinião formada.” É a “chamada” para uma reflexão acerca do que “aprendemos ontem e defendemos hoje” sem levarmos em conta o pensamento daqueles que nos motivaram, se ainda continuam com os mesmos pensamentos, é o “de olhar a educação que fizemos” com os nossos próprios olhos”.

Chegando então a conclusão não concluída, cujo enfoque maior é a relevância de tudo do que aqui foi colocado terá para o educador que pretende transformar a sua prática. Juntando a reflexão da ação de Isabel Alarcão e a reflexão na ação de Donald Schön, podemos então chegar a um denominador comum que poderá ser explicado por estas palavras: “profissionais capacitados aprendem a conduzir experimentos sobre a concepção nos quais eles impõem um tipo de coerência à situações caóticas e, por conseguinte, descobrem conseqüências e implicações das concepções que escolheram” (SCHON, 2000, p.123)

Profissionais desinteressados: a quem envio?

Sempre nos deparamos com este tipo de frase: “como professor tal é desinteressado”. Dês-interessado, “des”, segundo o dicionário de Sérgio Ximenes, significa separação, negação, transformação. Lembrando as palavras de uma psicóloga do acelera que disse: “des-interesse, poderia ser entendida como a falta de interesse de dois lados”. Na época ela falava do professor e do aluno, isso quando o “desinteressado” seria o aluno.

Se pegarmos o significado dado por Ximenes, podemos então, dizer que um profissional desinteressado, é um profissional em um estágio de transformação.. ele não tem os mesmos interesses que tenho, mas, certamente, poderá ter outros que não tenho, do mesmo modo que o acho desinteressado, ele também poderá ter a mesma opinião ao meu respeito.

A quem envio? Eis um questionamento que nos leva a uma reflexão que envolve todos que fazem parte do fazer educativo. Se envio o “profissional desinteressado” para uma determinada instituição educativa, estou simplesmente afirmando que: “ele não é desinteressado”. Porque se assim não fosse, não lhe confiaria uma sala de aula ou “somos todos iguais, cada uma faz a sua maneira do jeito que pode”.

Ao depararmos com a primeira situação, faz-nos refletirmos sobre as palavras de Schön quando nos fala sobre o conhecer-na-ação, antes de chegarmos a reflexão-na-ação. A reflexão sobrte o processo ensino-aprendizagem sempre temos como foco o aluno e ou as características que o educador deverá ter. Voltarmos o nosso foco de estudo para o profissional poderemos, então, estar dando uma outra visão para esse “rótulo de desinteressado”. O que nos responderia um “profissional desinteressado” acerca dessa questão? Certamente iria nos mostrar pelo que se interessa e com certeza, nós que passaríamos a ser desinteressados. “(...) o conhecimento está nas entrelinhas do saber lidar com todos os elementos e do construir a prática educativa” (PAIVA, 2003, p. 49) e se levarmos em conta as Inteligências Múltiplas de Gardner, teríamos, nada a mais a fazer do que, negarmos a existência do “profissional desinteressado” no seio do fazer educativo.


Diversidade de opiniões: qual defendo e qual adequou às minhas?

A globalização no conto “o gato e o rato” me faz lembrar a nossa educação, falamos a mesma língua, mas não entendemos o que falamos juntos. Muito se fala em inclusão, conviver e aceitar as diferenças, autonomia.... são tantos os temas presentes na realidade educativa.... Percebe-se que "envolvimento" muitas vezes poderá servir de disfarce para um antigo conhecido do fazer educativo: "o autoritarismo".

Ao chamar a atenção para a parte da educação, identifico três grupos existentes na educação:
Grupo dos que estão na educação mas não fazem a educação;
Grupo dos estão, fazem, mas não se sentem responsáveis pela educação;
Grupo dos grupos que estão, fazem e são responsáveis pela educação.

O 1º grupo é aquele formado pelas pessoas que desempenham apenas o papel na função que exercem. São aquelas pessoas que, enquanto estamos defendendo a inclusão digital, elas vão lá e “zap”: colocam um imenso cartaz dizendo: “proibido entrada no setor de digitação. Grato à direção”. Ou então defendemos, o respeito às diferenças, o apoio ao aluno, dito, “pertencente ao grupo de risco” e no instante que um aluno desse grupo sai, passa a defender os seus direitos, logo é desrespeitado enquanto cidadão no exercício da sua cidadania, ou pior, não acreditam e até discriminam.

O 2º grupo á aquele é aquele em que as pessoas envolvidas ajudam em tudo, lutam pelo sucesso da educação pública, mas, no momento de “botar a mão na massa” usam logo aquela história do pardal ao apagar o incêndio na floresta: “-já fiz a minha parte”.

O 3º grupo diz respeito a todos aqueles que fazem, vivem e são responsáveis pela educação, mas fazem tão bem, que terminam monopolizando tudo, defendem o tão conhecido “corporativismo” e no último instante tornam excelentes egocêntricos: “meus alunos”, “meus professores”, “minha escola”...enfim, tudo será feito em nome “daquele tão grande envolvimento” que termina por não se colocar no lugar do outro, não respeitar uma idéia diferente da sua, “critica cada pessoa e não as sugestões”...é o manipulador de “carterinha”

Esses três grupos não estão envolvidos para com o fazer educativo? E, afinal o que é estar envolvido?

E mais uma vez a situação do espaço para a reflexão sobre a prática “podemos refletir sobre a ação, pensando retrospectivamente sobre o que fizemos de modo a descobrir como o nosso ato de conhecer-na-ação pode ter contribuído para um resultado inesperado” (SCHON, 2000, p.32).


A escola que o diretor deseja

Durante todos esses anos, o que mais ouvimos dos educadores foi: “defender uma escola que forme sujeitos autônomos, pensantes e críticos” como seria essa escola? Quem seriam esses educandos? Que professor trabalharia nessa escola? Se acredito que cada aluno aprende de uma maneira diferente, como então criar um objetivo único e igual para todos? Essa questão que tenho procurado defender a todo custo, é o que realmente acredito?

Se no instante que aceito que o aluno deva ficar retido de um ciclo para o outro, ou no momento que tenho tentado justificar as dificuldades do fazer pedagógico, não estarei sendo incoerente para com o tema defendido?

Se antes de defendermos um determinado objetivo, refletíssemos sobre tudo o que possa a ele estar relacionado, não estaríamos hoje, procurando culpar o outro pelo os nossos fracassos em sala de aula? É interessante, o quanto a fala de Edgar Morin se adéqua a essa situação: “É esforçar-se para pensar bem, é exercitar um pensamento aplicado constantemente na luta contra falsear e mentir para si mesmo, o que nos leva, uma vez mais, ao problema da cabeça bem-feita” (2004, p.61)

O que desejo e o que os alunos e alunas desejam está de acordo o desejo do diretor? Após essas reflexões, percebemos, o quanto estamos longe em conseguir para nós mesmos o que desejamos para os alunos e alunas. Tornarmos-nos e transformar-nos em profissionais reflexivos, poderá ser a chave do sucesso para todo educador que pretenda ser autor e ator do percurso e do fazer profissional no seu conhecimento.


Metamorfose: a velha opinião formada

O que aprendi hoje, posso defender amanhã dependendo de como gerencio e administro a minha formação. Ao não agirmos como professores pesquisadores, deixamos de dar vida às novas opiniões e concepções que defendemos. Posso estar adquirindo conhecimento a todo instante, mas desenvolver, aplicar e transformar esses conhecimentos, só poderá acontecer com um exercício disciplinado da reflexão da reflexão na ação. Para Alarcão
a mudança de que a escola precisa é uma mudança paradigmática. Porém, para mudá-la, é preciso mudar o pensamento sobre ela. É preciso refletir sobre a vida que lá se vive, em uma atitude de diálogos com o pensamento, o pensamento próprio e o dos outros (2001, p.15)

Acompanhar aquelas pessoas, as quais, fundamentaram a minha prática, torna-me um pesquisador em busca de novos paradigmas que influenciarão a prática educativa. Que novas concepções terão esses estudiosos hoje? No que mudaram? Ainda continuo acreditando e defendendo os mesmos conhecimentos e ou saberes adquiridos a oito anos atrás? Ainda vejo a educação como os mesmos olhos, ou a vejo com os olhos dos outros?


Conclusão

Refletir acerca de tudo o que foi colocado neste texto, me coloca na condição de um profissional reflexivo capaz de transformar as críticas em desafios que servirão para a construção de um novo paradigma já defendido por muitos estudiosos: a reflexão sobre a prática.

A reflexão, torna então, um aliado essencial da auto avaliação e uma preparação prévia para todo o profissional que pretenda usar a crítica como instrumento que ajudará no fazer profissional em prol de uma educação pública de qualidade.

O encanto e o envolvimento para com uma educação pública, só serão possíveis, a partir do instante que os desafios e os obstáculos não se transformarem em desencanto para o profissional da escola pública. O envolvimento e o compromisso para com essa realidade é o que causa encanto. A reflexao sobre o que aqui foi colocado transforma o fazer educativo em uma situação de envolvimento tal, que o desencanto encontrado dará lugar a um fazer reflexivo.

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